Começou por ser um imperativo, por força da pandemia que obrigou tantos retalhistas e empresas a fechar portas. Depois, clientes e fornecedores perceberam que tinha muitas vantagens e que era um caminho sem retorno. Hoje trata-se já de uma questão de sobrevivência. A transformação digital deixou de ser uma opção.
Tornou-se obrigatória para as empresas em geral e para as Pequenas e Médias Empresas (PME) em particular. Para se manterem competitivas, eficientes e merecerem a escolha dos exigentes consumidores dos dias de hoje, num mundo altamente volátil, as PME devem ambicionar ser cada vez mais digitais.
As PME que ‘abracem’ a digitalização estarão mais preparadas para fazer face aos desafios e obstáculos que vão surgindo e que, a julgar pelo contexto atual, são mais do que muitos. A flexibilidade e o acesso à informação que o digital permite são fundamentais não só para enfrentar momentos de crise, mas também para acompanhar a velocidade a que a inovação vai alterando o comportamento dos mercados. E constitui, claro, uma fonte potencial imensa de criação de valor.
No entanto, quando se fala em apostar na digitalização, não se trata apenas de implementar novas soluções tecnológicas, fazendo uso de ferramentas como a Inteligência Artificial ou o ‘Machine Learning’. Implica uma mudança da cultura das empresas, que deve refletir-se não apenas na estratégia, na política de gestão e no funcionamento, mas também na forma como é interiorizada e implementada pelos colaboradores das organizações.
Sendo certo que é longa a lista de vantagens que podem advir, para as PME, da transformação digital, algumas são particularmente relevantes. Uma delas é a possibilidade que o digital traz, para empresas de menor dimensão, de acesso a consumidores e mercados que, de outra forma, lhes estavam vedados. E a capacidade de se aventurarem por novos caminhos sem correr tantos riscos à cabeça. Começar pelo digital permite, por exemplo, testar a viabilidade de um novo negócio, antes de ser dado o passo mais oneroso de uma presença física.
Por outro lado, quando falamos daquilo que é a relação entre a empresa, os seus clientes e outros stakeholders, as ferramentas digitais tendem a dar origem a canais de distribuição mais eficientes e que proporcionam uma melhor experiência de consumo. Melhoram a comunicação e proximidade, aumentam a informação sobre os hábitos e necessidades dos clientes e reforçam a conveniência dos consumidores. Acresce que a digitalização a que temos assistido a nível global, deu origem a consumidores muito mais exigentes e informados e que vão, por isso, privilegiar os fornecedores que lhes prestem um serviço de qualidade.
Mesmo a nível interno, a transformação digital tende a melhorar a comunicação dentro das organizações, permitindo que estes estejam mais informados e motivados no exercício das suas funções.
Graças ao digital, o volume de dados a que hoje as empresas têm acesso é enorme, o que faz com que os gestores possam ter uma compreensão mais global dos seus negócios, antecipar cenários e tendências e conhecer mais a fundo os seus clientes. Desta forma, cresce a probabilidade de tomarem decisões mais informadas e corretas e de serem capazes de se ajustar e responder a mudanças que ocorram no mercado.
A digitalização traz ainda vantagens em termos de competitividade e rentabilidade, conseguidas graças à automatização de processos, à otimização da produção e distribuição, à redução de custos e ao aumento das receitas.
Embora a grande maioria das PME concordem que a digitalização é crucial enquanto vantagem competitiva e mesmo como garante de sobrevivência, ainda há muito para fazer. Não só quanto à transformação digital em si, mas também na componente da cibersegurança. E não é apenas Portugal que tem muito caminho pela frente.
Estima-se que, no mercado europeu, apenas três em cada cinco PME tenham conseguido atingir o nível básico de intensidade digital, estando as nossas empresas abaixo da média da União Europeia. Sabe-se também que, ao nível da cibersegurança, muitas empresas ainda não reúnem as condições necessárias a uma proteção eficaz. E, em 2022, mais de metade das PME europeias terão fechado por conta dos ciberataques de que foram alvo.
Melhorar nestas duas frentes implica uma aposta financeira e de recursos. Sendo muitas das PME portuguesas estruturas familiares e sem grandes níveis de literacia digital, este é um desafio para muitas. A boa notícia é que esta aposta tende a resultar em retornos importantes, mais tarde ou mais cedo.